Siderúrgicas não temem concorrência com chegada da Klöckner ao Brasil (01/06/2011)


RIO - A compra da distribuidora paulista de aço Frefer Metal Plus pela alemã Klöckner, ocorrida neste mês, não assusta as grandes siderúrgicas brasileiras, que dominam o setor de distribuição da commodity no país. No ano passado, as distribuidoras ligadas às siderúrgicas responderam por 49,6% do volume comercializado no país, enquanto a Frefer abocanhou a fatia de 4,9%.
 
A Klöckner está entre as maiores distribuidoras de aço da Europa e tem operações nos Estados Unidos, mas executivos das siderúrgicas brasileiras não se mostraram preocupados com a concorrência direta com a companhia no país ou com um possível aumento das importações estimuladas pelo novo concorrente.
 
O diretor financeiro da CSN, Paulo Penido, afirmou que o setor siderúrgico brasileiro é competitivo. Ele lembrou que durante muito tempo não houve tarifas às importações de aço no Brasil.
 
"Quem quisesse, poderia importar. A indústria brasileira vai sobreviver, vai continuar crescendo", afirmou, durante painel no Rio Investors Day, no Rio de Janeiro.
 
Os executivos das companhias ressaltaram que o mercado nacional sempre funcionou com preços um pouco mais salgados que os cobrados fora do país. A diferença era fruto de serviços prestados aos clientes, como a entrega rápida de tipos específicos de produtos. O vice-presidente de finanças da Gerdau, Osvaldo Schirmer, lembrou que a empresa, que tem foco em aços longos, sempre sofreu menos os efeitos das importações.
 
"O cliente brasileiro conscientemente pagava mais que a média dos clientes internacionais, mas tem tipo de serviço, tipo de atendimento no caso de aços longos que para importação é muito difícil competir. Tem uma fábrica a cada 600 quilômetros, atendendo 'on time', com o produto que o cliente quer, do jeito que ele pediu", ressaltou Schirmer. "A importação de aços longos no Brasil sempre foi irrelevante estatisticamente. E não era por um problema de escala dos traders internacionais, porque nesse mercado todo mundo vende", acrescentou.
 
O executivo da Gerdau lembrou que o produto "que viaja" para ser importado são as placas. Segundo ele, no Brasil, a companhia entrega na porta do cliente muitas vezes um produto cortado e dobrado.
 
"Não é a alíquota de 2% de importação que segura a importação, isso é ridículo. O que segura é a eficiência do atendimento local, é o cliente saber exatamente o que está comprando e quando vai receber", afirmou. "O diferencial da indústria local versus a importação tem se dado ao longo da história pelo que o fabricante local faz no diferencial. A criação de um player muito maior vai mudar? Por definição não. A menos que a gente falhe na manutenção desse serviço diferencial", ponderou.
 
O presidente da Usiminas, Wilson Brumer, tem opinião semelhante, mas ressaltou que as margens de diferença pagas pelos clientes brasileiros no passado em comparação aos preços internacionais não vão se repetir. Segundo ele, patamares que já representaram 40% não vão mais superar os 10% ou 15%.
 
"Com relação à chegada de um distribuidor desse porte, vejo com mais otimismo. Hoje, tirando nossas empresas, que consolidaram seus setores de distribuição, temos um monte de pequenos distribuidores, que às vezes ficam muito mais no oportunismo que profissionalismo", disse. "Vejo muito mais [a entrada da Klöckner] como uma profissionalização e a criação de um competidor que tem o mesmo objetivo do que nós", destacou.
 
Fonte: (Rafael Rosas | Valor) - 01/06/2011