No discurso, está tudo certo na Usiminas - 27/06/2011


A Usiminas promete aos investidores um futuro brilhante. Mas o presente é de ataques dos concorrentes e ceticismo por parte dos acionistas

"Vamos transformar a Usiminas numa companhia de 50 bilhões de reais em valor de mercado nos próximos quatro anos. Aumentaremos nossa produção de minério para 29 milhões de toneladas e seremos autossuficientes em energia.”

Foi com esse pronunciamento que o mineiro Wilson Brumer, presidente da Usiminas, deu início a um evento para cerca de 400 convidados na sede da empresa, em Ipatinga, a 217 quilômetros de Belo Horizonte, no dia 18 de maio.

O encontro, que contou inclusive com a presença do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, serviu para anunciar a inauguração de uma nova linha para a fabricação de aços nobres — o investimento, que consumiu 914 milhões de reais e 29 meses de trabalho, é um dos maiores realizados pela empresa em um único projeto desde 2008.

No final de abril, Brumer já havia participado de um evento solene no Rio de Janeiro, ao lado do governador Sérgio Cabral, para anunciar o investimento de 90 milhões de reais na recuperação de um terreno adquirido no município fluminense de Itaguaí, onde a Usiminas pretende instalar um porto para expandir suas operações de mineração. Sempre que possível, Brumer faz questão de frisar a meta da empresa: triplicar sua geração de caixa, para 8,3 bilhões de reais, até 2015. 

Com planos desse porte, era de imaginar que analistas e investidores estivessem otimistas em relação ao futuro da companhia, certo? Não exatamente. Os resultados desanimadores registrados pela Usiminas no último ano fizeram com que o discurso de Brumer fosse ouvido com certo ceticismo.

Nos últimos 12 meses, o valor de mercado da Usiminas caiu 42%, para 17,2 bilhões de reais, a quinta maior queda da bolsa no período. O lucro despencou 96% no primeiro trimestre deste ano em comparação ao primeiro trimestre de 2010, para 16 milhões de reais.

E a produção de aço, embora tenha aumentado 30% em 2010, alcançando 7,3 milhões de toneladas, ainda continua longe do pico verificado em 2007, de 8,7 milhões de toneladas. Até como consequência de alguns desses números, a Usiminas perdeu participação de mercado.

No final de março, a siderúrgica respondia por 19,5% das vendas de aço bruto do país — um ano antes, sua fatia era de 22,9%. “Os investidores não reagem apenas a anúncios. A empresa precisa mostrar como pretende alcançar essas metas”, diz Rafael Weber, analista de siderurgia da gestora Geração Futuro.

Como todas as empresas do setor, aqui e lá fora, a Usiminas sentiu o baque da turbulência financeira internacional — que, entre outras coisas, fez com que a produção brasileira de aço caísse 21% em 2009.

O problema é que, no ano passado, quando o cenário começou a dar sinais de melhora, a Usiminas não conseguiu aproveitar a mudança como suas concorrentes.

Com uma estrutura de custos mais pesada (64% maior que a da CSN, por exemplo), sem autossuficiência energética e dependente da compra de minério de ferro (suas principais competidoras já têm suas próprias minas), a empresa viu suas margens encolher em comparação à concorrência.

Na ponta contrária, a CSN chegou a uma margem de lucro da ordem de 47% — 2,5 vezes maior do que a da Usiminas. “A CSN não precisa comprar energia e tem excedente de minério. Por isso, está hoje numa posição mais confortável que a nossa”, diz um conselheiro da Usiminas, com a condição de não ter seu nome revelado.

Às circunstâncias estratégicas pouco favoráveis se juntaram problemas operacionais. Desde o final do ano passado, quase 100% do minério utilizado na usina de Cubatão vem de uma subsidiária criada em julho de 2010, da união das três minas de minério de ferro compradas pela companhia dois anos antes, com a operação logística e portuária.

Trata-se de um minério de qualidade inferior ao comprado anteriormente no mercado — e, com a troca, alguns equipamentos perderam rendimento. “Os funcionários ainda estão aprendendo a trabalhar com esse tipo de material. É uma fase de adaptação”, diz Brumer.

Em dezembro do ano passado, essa “adaptação” beirou o caos quando um dos dois altos-fornos da usina — que, inicialmente, deveria ficar desativado por apenas 48 horas para manutenção — parou por quase 20 dias.

Com isso, a Usiminas perdeu parte dos prazos de entrega no início deste ano para empresas como as de linha branca (oficialmente a empresa admite os atrasos, mas nega que eles tenham relação com a parada no alto-forno).

“Até 2009, as margens de lucro das siderúrgicas brasileiras eram tão altas que a maior parte dos problemas operacionais ficava camuflada. Agora, com o cenário mais competitivo, as deficiências começam a aparecer”, diz Felipe Reis, analista de siderurgia do banco Santander.

Problemas trabalhistas

Enquanto tenta ajustar os processos de produção, a Usiminas corre para apagar outro incêndio — este de ordem trabalhista. Em fevereiro, o Ministério Público do Trabalho iniciou uma investigação na empresa. Partindo de denúncias dos trabalhadores, o MPT apura o aumento do número de acidentes de trabalho na usina de Cubatão.

Entre janeiro e março, foram registrados cinco acidentes e duas mortes, quase o mesmo número verificado em todo o ano passado. Paralelamente, o MPT investiga a Usiminas por desviar parte dos salários de funcionários não sindicalizados para o Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga.

A perda de competitividade e os problemas internos abriram espaço para um ataque de Benjamin Steinbruch, controlador da CSN. Desde janeiro, Steinbruch tem adquirido ações da Usiminas na bolsa — em abril, já detinha 10% das ações ordinárias.

Recentemente, a Caixa dos Funcionários, fundo de pensão dos empregados da Usiminas, teria colocado à venda seus 10% de participação — nesse caso, Camargo Corrêa, Votorantim e Nippon Steel, que já são acionistas da Usiminas, teriam preferência de compra.

O presente não é confortável para a Usiminas. O futuro depende, agora, da capacidade de Brumer e de seus executivos de transformar bons discursos em ações que convençam os acionistas de que a empresa continua a ser um bom negócio.

Fonte: Exame - 27/06/2011