CEO da Usiminas: oportunidade para consolidação passou (30/03/2011)


O período de consolidações relevantes no setor siderúrgico brasileiro já passou, com grandes grupos buscando estratégias de crescimento diferentes entre si, afirmou nesta terça-feira o presidente da Usiminas, Wilson Brumer.

"Não tem muito mais janelas de oportunidade (para grandes negócios no setor). Somar 1 mais 1 dando 2 não tem sentido. Tem que virar três", disse o executivo em entrevista durante o Reuters Latin American Investment Summit.

Ele fez o comentário em meio a avaliações de analistas de mercado sobre chances de uma eventual união de operações da Usiminas com outras grandes siderúrgicas do país, enquanto a rival Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) anunciou mais cedo que mantém intenção de ter 10% das ações com direito à voto da Usiminas.

Respondendo à questão sobre eventuais ruídos surgindo por conta de uma eventual chegada da CSN ao grupo de controle da Usiminas, Brumer comentou que a participação que está sendo comprada pela rival não faz parte do bloco dos principais sócios.

"Sinergias você só consegue ter quando você junta ativos. Uma participação acionária em si tende a ser muito mais um ativo financeiro. Demonstração disso foi nossa decisão de vender nossa participação na Ternium", disse o executivo, citando a venda em fevereiro da fatia de cerca de 14% da Usiminas na siderúrgica latina que rendeu cerca de US$ 1 bilhão para a empresa brasileira.

O executivo - que foi presidente da produtora de aços especiais Acesita na década de 1990, que acabou sendo vendida para a ArcelorMittal- completa em abril um ano no comando da Usiminas.

Ele afirmou que não foi chamado "para preparar a Usiminas para ser vendida" e disse que "a Usiminas precisa ser, como sempre foi, uma empresa líder em aços planos na América Latina".

Diante de críticas de analistas sobre custos elevados de produção e cobrança de investidores para melhora de margens no curto prazo, Brumer comentou ter como objetivo elevar o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) para 8 bilhões de reais até 2015, com margem de siderurgia em torno de 20%.

Em 2010, o Ebitda da companhia somou quase R$ 2,7 bilhões e a margem da área siderúrgica foi de 16%, num ano em que os resultados da Usiminas foram afetados por alta de custos com matérias-primas como minério de ferro e carvão e volume elevado de importações de aço pelo Brasil que obrigaram as usinas nacionais a conceder descontos de preços.

Diante da redução na diferença de preços cobrada no Brasil em relação a aço importado, o presidente da Usiminas estima que as importações do insumo pelo país vão cair 50% em 2011 e confirmou ainda que a siderúrgica está negociando com clientes reajuste de preços de aço no Brasil entre 6% e 10%.


EFICIÊNCIA
A estratégia da Usiminas para melhorar seus resultados passa por otimização de operações e tem como pilares as áreas de minério de ferro, carvão, logística e energia.

A área de mineração elevará produção de 7 milhões de toneladas em 2010 para 29 milhões em 2015, aumentando a autossuficiência da empresa no insumo. Em carvão, a solução "não é simples", afirmou, comentando que não há equilíbrio entre oferta e demanda. Em logística, a empresa fez acordos com empresas do bilionário Eike Batista.

A empresa elevou a média prevista de investimentos entre os anos de 2007 e 2014 para R$ 1,66 bilhão ante patamar de R$ 674 milhões entre 2000 e 2006.

Para Brumer, os investimentos têm que ser dirigidos para aumento de eficiência e não para ampliar capacidade de produção de aço bruto. Mas esse aumento de eficiência passa por adição de valor agregado e isso implica em necessidade de mais energia.

Pelos cálculos da empresa, citados por Brumer, atualmente a diferença entre o que a Usiminas consome e gera de energia é de 400 megawatts. Essa conta pode subir para 600 megawatts até 2015 e, por isso, "será inevitável o investimento em ativo de energia".

No curto prazo, porém, o executivo afirmou que o mercado tem que se acostumar que as margens da siderurgia no Brasil "tendem a se aproximar de níveis internacionais".

"Lógico que as empresas no Brasil continuarão cobrando algum prêmio (de preços de aço), mas não acredito em algo além de 10% ou 15%".

Fonte: O Globo - 30/03/2011