Mudança na Vale pode repercutir em projeto no CE


Mais alinhada às diretrizes do governo Dilma, gestão de Murilo Ferreira pode ter impacto positivo no Estado

A mudança na presidência da Vale, após dez anos sob os comandos de Roger Agnelli, pode ter impacto direto no Ceará. A entrada de Murilo Ferreira ocorre exatamente no ano em que a empresa irá iniciar o desenvolvimento do projeto da Companhia Siderúrgica de Pecém (CSP), que prevê o começo das primeiras obras no local, com o processo de terraplanagem, no próximo mês de junho.

Em seu orçamento para 2011, a empresa destinou US$ 195 milhões para serem aportados na usina cearense.

As expectativas do mercado, contudo, são positivas em relação a Murilo. O motivo para isso é que a mudança veio exatamente para escolher um nome mais alinhado ao governo federal. É sabido que boa parte dos investimentos da Vale em siderurgia, que são relativamente recentes, vieram através de uma pressão do Palácio do Planalto.

Política nacional

O ex-presidente Lula queria que a Vale contribuísse com a política nacional de exportar bens manufaturados, de maior valor agregado, e não somente matéria-prima. A lógica é bem semelhante à da Petrobras. Apesar das críticas de inúmeros analistas, a estatal decidiu investir na criação de cinco novas refinarias, sendo quatro delas no Nordeste (Pernambuco, Ceará, Maranhão e Rio Grande do Norte) e uma no Rio de Janeiro (Comperj). Lula, por diversas vezes, defendeu que o Brasil deveria exportar derivados de Petróleo e não mais só o óleo, e acabar com sua dependência dos derivados, como o diesel.

Lógica de exportações

Na prática, hoje o Brasil exporta petróleo para ser refinado no exterior e, depois, trazido de volta ao País, com um preço bem maior. Esse discurso de Lula foi repercutindo na voz de Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras. Hoje, mais que técnica, a decisão pela instalação de novas refinarias no Brasil, contemplando fortemente o Nordeste, é política. Assim acontece com a Vale, maior produtora de minério de ferro do mundo, que exporta a maior parte deste produto a grandes grupos siderúrgicos no exterior.

No Brasil comandado por Dilma Rousseff, o entendimento é o mesmo (talvez ainda mais incisivo). Tanto que o governo já avisou que pode sobretaxar a venda de minério de ferro, forçando a Vale a se voltar mais fortemente à siderurgia.

Esta exigência por um trabalho mais alinhado à política nacional foi reforçada na última segunda-feira por afirmação do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, a jornalistas em Brasília: "A Vale precisa contribuir mais fortemente com o desenvolvimento do País". Lobão disse que a maior produção de aço no Brasil seria "conveniente e necessária ao povo brasileiro".

Hoje, a Vale está envolvida em quatro projetos siderúrgicos no Brasil. Fora o cearense, a mineradora já possui uma planta em operação, a ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), no Rio de Janeiro. Nesta usina, que tem capacidade de produzir cinco milhões de toneladas de placas de aço anuais (Mtpa), a Vale possui 26,9% das ações.

Também neste ano, será iniciado, segundo os planos da empresa já divulgados, a Aços Laminados do Pará (Alpa), a ser instalada em Marabá. A capacidade nominal é de 1,8 Mtpa de placas e 0,7 Mtpa de aços semiacabados. Para 2011, prevê-se investimentos de US$ 100 milhões, e o ´start-up´ está previsto para o segundo semestre de 2013. O projeto, todavia, ainda está sujeito à aprovação do Conselho de Administração da empresa.

No Ceará, a CSP produzirá 3 Mtpa de placas, podendo ampliar para 6 Mtpa, em uma etapa que ainda precisa ser confirmada. A primeira fase, na qual a usina conta com parceria com as sul-coreanas Dongkuk e Posco, está programada para entrar em operação em 2014.

Sem pronunciamento

Sobre o andamento do investimento no Ceará, a Vale, segundo a assessoria de imprensa, disse que ainda não irá se pronunciar. A diretoria da CSP, também por assessoria, afirmou que não comentará as mudanças na presidência da Vale. A reportagem também procurou o governador Cid Gomes para saber seu posicionamento sobre o assunto, mas este, por motivos pessoais, cancelou toda sua agenda para o dia de ontem.

Fonte: Sérgio de Souza, Diário do Nordeste - 06/04/2011